quinta-feira, 26 de julho de 2012

Je t'aime [Parte 3]


- Você disse que estava bem, você não está bem. Foi uma mentira! – eu deveria manter a calma agora, bem, é mais fácil falar do que fazer.
- Eu não queria preocupa-las
- Você deveria ter nos contado. Não deveríamos ter voltado e deixado a senhora
- Não se preocupem comigo. Eu estou velha, não quero interferir na vida de vocês.
- Você é nossa avó. É claro que nos preocupamos
- Vocês são ótimas netas. Seus pais fizeram um bom trabalho – percebo que ela começou a ficar mais fraca
- A senhora está bem? Quer que eu chame o médico?
- Não. Eu ficarei bem – ela sorri – Cuide da sua irmã, ela precisará de você.
- A senhora está morrendo?
- Ariane! – digo, lhe repreendendo. Isso lá é coisa de se perguntar?
Vovó ri um pouco
- Tudo bem – ela segura nossas mãos – Eu amo vocês duas. Nunca se esqueçam disso
- Nós a amamos também vovó
Ela fecha os olhos. Ari e eu começamos a chorar.
Eu chamei o Dr. Brady, mas ele não pode fazer nada.
Ver uma pessoa que você ama morrer na sua frente é a pior coisa pela qual você pode passar.
Tudo o que eu queria agora era deitar na minha cama e ficar por lá um bom (e longo) tempo. Mas eu não podia, eu tinha que ser forte. Pela Ariane.
Nós estávamos na casa da vovó arrumando suas coisas (ela queria que ficássemos com a casa, mas não conseguiríamos viver ali. Quando o resto da família chegar, eles que decidam o que fazer). Em uma gaveta do meu antigo quarto eu achei uma foto minha com o Miles. Como eu queria que ele estivesse aqui agora.
- Luci...?
- Miles! – corri até ele e o abracei o mais forte que pude.

*Três dias depois*
- Vocês vão voltar para Nova York agora? – pergunta Roland
- Sim. Acho que a Luci não quer ficar para o casamento. – Ariane diz em resposta
- Não soube? Miles desistiu do casamento
- O que? Luci precisa saber disso – Ariane sai correndo
- Ei, espera! – e Roland vai atrás dela.

- Por que não me contou? – pergunto a Miles quando ele chega a varanda
- Contar o que? – ele parecia realmente confuso
- Que você não vai mais se casar! Por quê...?
- Eu não conseguiria. Molly merece alguém que a ame
- Pensei que você a amasse
Miles ri
- É, eu também
- O que te fez mudar de ideia?
- Eu me apaixonei... Pela minha melhor amiga
Eu dou uma leve risada e balanço a cabeça negativamente. Ele não podia estar falando sério.
- O que? Não acredita em mim?
- Eu só estive aqui por uma semana Miles. Você não pode se apaixonar por uma pessoa em uma semana a ponto de desistir de um casamento
- Não é verdade! Têm pessoas que se apaixonam, pra valer, nos primeiros momentos juntos
- E acaba tão rápido quanto começou
- Meus pais se conheceram numa segunda e se casaram numa sexta. Eles estão juntos até hoje. De qualquer forma eu não me apaixonei por você em uma semana. Eu estou apaixonado por você há uns dez anos, mas como você sumiu...
- Own isso é tão fofo. Se beijem logo!
- Ariane! O que você está fazendo aqui? – digo, meio envergonhada, meio irritada
Ari olha pra Miles
- Cam estava te procurando. Ele queria te entregar isso – ela dá um envelope a Miles que o abre.
- Ah meu Deus!
- O que foi? – pergunto lhe, preocupada.
- É de uma universidade em Nova York, eles me deram uma bolsa parcial.
- Parabéns – eu digo-lhe o abraçando
- Valeu – ele responde sorrindo, olhando para o papel em sua mão

Miles arrumava suas coisas dentro das malas em cima da cama, Cam e Roland entram em seu quarto.
- Então você vai mesmo para Nova York com elas?
- Ariane está indo embora? Graças aos Céus! – Roland ergue seus braços em agradecimento
- Pensei que tivessem parado com as brigas depois da... Ahm, senhora Price... – diz Miles, dobrando uma blusa e colocando na mala.
- Ah sim. Mas Ariane ainda é Ariane. Ou seja, continua sendo a mesma pessoa chata.
- Qual é Roland! Todos nós sabemos que você gosta dela
- Roland gosta da Ariane? – Miles joga uma almofada em Cam.
- Deixa de ser lerdo cara!
- Xinga mas não ofende poxa!
- O tamanho da inteligência do Cam é o tanto que eu gosto dela – diz Roland ao irmão
- Ah então você a odeia mesmo – brinca Miles
- Ei! OK eu vou descer porque isso aqui já virou um complô contra mim – Cam sai do quarto
- Roland sobe em cima da mala pra mim? Eu não consigo fecha-la
Roland dá uma risada sarcástica
- Te vira! – e sai do quarto também
- Eu amo os meus irmãos, eles são tão prestativos...

Ari, Miles e eu chegamos, finalmente, em casa.
- Shelby, está ai? – pergunto ao abrir a porta e ela aparece da cozinha
- Hei Luci, por que não me ligou? Eu podia busca-las no aeroporto e... – ela para de falar ao ver Miles.
- Oh ér... Shelby este é o Miles e Miles esta é minha amiga Shelby
- Prazer – Miles e Shelby dizem em uníssono, sorrindo.

Miles e Luci estavam de pé na varanda abraçados. Ariane e Shelby os observavam.
- Own eles ficam tão fofos juntos – diz Ariane com o queixo apoiado nas mãos.
- Sim. Formam um casal muito lindo.

É, com certeza essas férias não aconteceram como o planejado. Mas não posso me queixar, bem, não por tudo. Sobre minha vó eu devo seguir em frente (ou tentar) como fiz com a morte de meus pais (ok eu ainda não superei e não acho que vou tão cedo) de qualquer forma, preciso estar forte pela Ariane. O lado bom é que não preciso fazer isso sozinha. Eu tenho a Shelby e o Miles (já disse que amigos são a melhor coisa que existe? Pois são).
Decidi que vou deixar o destino fazer a parte dele. Ele já trouxe Miles de volta a minha vida, vamos ver até quando vai deixa-lo. Sinceramente eu só espero que seja por um bom e longo tempo.
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Worst end ever !! Eu sei... =/
Um dia eu melhoro a minha capacidade de fazer bons finais :D
Relembrando: os nomes dos personagens são do livro "Fallen" da autora Lauren Kate [não estou plagiando ninguém, só avisando para evitar problemas futuros]
Beijos e até sábado com DTM (:

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Je t'aime [Parte 2]


- Hey, finalmente a bela adormecida acordou – Miles da uma risada.
- O que estão fazendo aqui?
- Vou levar Roland ao observatório, pensei que talvez vocês quisessem ir também.
Ariane me olhou com aquela cara de cachorro pidão que é impossível dizer não. Resultado: lá estava eu indo ao observatório de Norristown – que é a única coisa legal nessa cidade... O dia passou e descobrimos que a amizade de Ari e Roland era só passageira. Sim, os dois ficaram o dia todo brigando... Eu por outro lado me diverti muito com as brigas dos dois (porque querendo ou não, isso é hilário) e com o Miles (o amigo mais legal que você pode ter). No fim da tarde Miles recebeu uma ligação e tivemos que voltar para casa.
- Você está bem Miles? Parece nervoso... – lhe pergunto antes de abrir a porta.
- Eu? Não, que isso! Estou bem – ele sorri – Boa noite
- Boa noite – despeço-me e entro em casa com Ariane
- Finalmente! Cadê a vovó?
- Não sei... Vou ver se está no quarto – subo as escadas e entro no quarto de minha avó. A encontro deitada em sua cama.
- Vovó? A senhora está bem?
- Sim querida, só um pouco cansada. Coisa da idade – ela ri – Onde está Ariane?
- Aqui – ela entra sorrindo no quarto e senta-se na cama
- Então como foi o dia? Divertiram-se?
- Até que foi legal, apesar do idiota do Roland... – Ari revira os olhos
- Idiota? Pensei que eram amigos
- Pois é, aparentemente não. Em algum momento do dia os dois começaram e discutir e não pararam mais – explico
- O que posso fazer se ele é um imbecil retardado que tem cérebro de ameba? Argh como ele me irrita! – Ari levanta-se e sai do quarto. Vovó e eu trocamos um olhar e começamos a rir.

*Três dias depois*
Miles estava estranho, com a cabeça MUITO longe. Quando eu perguntava, ele dizia que não era nada só minha imaginação. Mas eu sabia que tinha algo estranho... E por falar em “coisas erradas” estava acontecendo alguma coisa com minha avó. Ela passava o dia todo em sua cama, eu sei que ela está um pouco velha (sem ofensas), mas isso não é normal.
(Mudando totalmente de assunto) Miles e eu decidimos levar Ari e Roland para uma casa de jogos e tentar fazê-los serem amigos de novo... Mas não funcionou
Ariane mostra a língua para Roland e sai.
- Garota esquisita... – ele diz observando-a ir embora
- Ah o amor é lindo – Miles diz com um suspiro
- O que? Eu não amo a Ariane, eu odeio a Ariane!
- Roland, na sua idade é a mesma coisa.
Dessa eu tive que rir
- Vou atrás dela
Eu achei Ari jogando pebolim com uma garota. Eu a levei até os dois depois dela ganhar (bem, ela estava tão nervosa e jogou como um monstro que era impossível ela não ganhar) e eu (com todo o meu amor e carinho de irmã) a forcei a pedir desculpas para Roland. Ela deve estar querendo me matar agora, mas as brigas dos dois já estavam me cansando.
Quando chegamos a casa Ari entrou batendo a porta com toda sua força. Roland ficou esperando no carro e Miles me acompanhou até a (pobre) porta.
- Nós ainda vamos resolver isso – digo-lhe.
- Sim, claro... – ele limita-se a dizer. E aqui está de volta o Miles do mundo da lua.
- Eu sei que já perguntei isso um milhão de vezes, mas... Você está bem? Parece um pouco... – e então ele me beija.
- Miles?! – uma garota loira aparece aparentemente irritada, nos olhando em choque.
- Oh Deus... – Miles diz baixinho. Sua expressão era a de um garotinho sendo pego pela mãe após quebrar a janela de casa com sua bola de futebol.
- Eu não acredito nisso... – a garota começa a gritar – Você é um grande idiota morto Miles!
- Eu posso explicar – ele vai até ela
- Como você pode? Eu te odeio – a garota entra em seu carro e vai embora
- Molly espera! – Miles entra em seu carro também e vai atrás dela
Alguém abre a porta atrás de mim.
- O que aconteceu? Eu ouvi gritos – era a minha avó
- Vovó, quem é Molly? – pergunto-lhe olhando para a rua
- Molly? É a noiva do Miles, por quê? Ela voltou?
Ótimo! Miles tem uma noiva e me beijou. O que ele tem na cabeça? Macarrão?
Eu estava feliz por rever meu melhor amigo, mas agora tudo o que eu quero é voltar pra casa... Como ele pode esconder isso de mim?
Eu preciso de um banho e ir dormir. Sim, vou fazer e Miles que vá pro inferno com sua querida Molly... Ops! Desculpa, eu quis dizer “vida longa ao novo casal”!

*Dois dias depois*
Não sei quem é mais burro, Miles ou Molly. Dá pra acreditar que ela o perdoou? Pois é, eles ainda vão se casar mês que vem...
Eu estava no meu quarto, sentada na cama ouvindo musica para me distrair um pouco quando minha vó apareceu na porta.
- Visita para você querida
Ela saiu e adivinha quem apareceu? Acertou quem disse Miles (nosso feliz noivo)
- Oi...
Tiro os meus fones do ouvido
- E ai?
- Eu só queria me desculpar. Eu estava confuso, não deveria ter feito aquilo. Você é minha melhor amiga e...
- Não Miles. Eu era. Parei de ser no momento em que você não me contou que estava noivo e ia se casar mês que vem!
- Qual é Luci! Você não pode ficar brava comigo pro resto do tempo que você estiver aqui – ele parecia irritado agora
- Eu não preciso. Estou voltando para Nova York amanhã
- O que? – então sua expressão muda para completo choque (ele tem feito muito disso essa semana)
- Eu até queria ficar para o seu casamento, mas acho que sua noiva não ia gostar.
- Luci...
- Acredite em mim Miles, é melhor assim. Você poderia ir agora? Eu tenho que arrumar minha mala
- Não vá Luci, por favor.
- Tchau Miles
Ele sai do meu quarto divido entre raiva e tristeza.

*No outro dia*
Minha avó pediu a Cam para nos levar até o aeroporto. Eu pensei que Miles iria aparecer, mas ele não apareceu... Liguei para Shelby pra avisar que estava voltando.
- Alô – Ouço a voz despreocupada de Shelby no outro lado da linha.
- Hey Shelby
- Luci? Até que enfim você ligou, o que anda aprontando?
- No momento estou no aeroporto esperando o avião, estou voltando pra casa...
- Aconteceu alguma coisa? Pensei que iriam voltar só no mês que vem
- Sim, eu ia. Mas achei melhor voltar agora
Ariane pega o celular de minha mão.
- Mas que fique bem claro que eu não estou de acordo com isso – dito isto ela me devolve o celular e posso ouvir Shelby dar uma risada no outro lado da linha
- Ok. Vou pegar vocês no aeroporto. Que horas vocês chegam?
- As 7:00p.m.

- Vou sentir sua falta – Ari diz a vovó ao abraça-la, despedindo-se.
- Eu também querida
- Vem Ari, temos que ir. – pego em sua mão e entramos no avião.

*Uma semana depois*
- Eu não acredito que ele fez isso – Shelby muda sua expressão de desapontamento para “alerta de fofoca” – Mas o que você sentiu quando ele te beijou?
- Sinceramente? Eu gostei, eu sei que eu não devia, mas eu gostei... – o telefone toca e vou atende-lo – Alô?
- Olá, eu poderia falar com Lucinda Price?
- Sou eu, pode falar.
- Eu sou Francesca do Hospital St. Patrick é sobre a sua avó

Ariane e eu pegamos o primeiro avião para Norristown.
Nós fomos para o hospital. Minha vó estava dormindo e nós ficamos lá esperando ela acordar.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Je t'aime [Parte 1]


- Alô – Ouço a voz despreocupada de Shelby no outro lado da linha.
- Hey Shelby
- Luci? Até que enfim você ligou, o que anda aprontando?
- No momento estou no aeroporto esperando o avião, estou voltando pra casa...
- Aconteceu alguma coisa?

*Cinco anos atrás*
- Nova York? – Miles parecia chocado, como se alguém tivesse lhe dado um soco no estômago.
- Sim. Transferiram o trabalho do meu pai pra lá, nós vamos daqui três dias – digo a ele, triste.

*Três dias depois – No aeroporto*
Confesso que nunca gostei dessa cidade. Sempre achei que me daria melhor em outro lugar, uma cidade maior e menos tediosa. Ir para Nova York era um sonho, que agora se tornaria real. Eu estava muito feliz, até lembrar o que eu deixaria para trás. Miles era meu melhor amigo, o único na verdade. Ir embora e deixa-lo fora a coisa mais difícil que já fiz na vida.
- Vou sentir sua falta – digo chorando, ao abraçar Miles.
- Eu também, muito! – percebi que ele estava juntando todas as suas forças para não chorar também. Separo o abraço e entra no avião com meus pais.

*Quatro anos depois*
Agora eu moro com minha melhor amiga, Shelby. Ela me apoiou bastante depois que meus pais morreram (ontem fez um ano). Estava pensando em levar Ariane para visitar nossa avó. Faz oito meses que ela veio nos visitar, e uns três anos que não vamos pra lá.
- Hey Luci, eu e a Ariane vamos tomar sorvete. Você vem? – Shel grita do corredor.
- Claro – grito em resposta.

- Quando nós vamos visitar a vovó? – Ari me pergunta, com sorvete até no nariz. Pego um guardanapo e a limpo.
- Nas férias.
- Mas vai demorar muito...
- Claro que não. Quatro meses passam voando – Obrigada Shel
- Shelby está certa. Agora termina esse sorvete que temos de voltar pra casa.
Quatro meses se passaram, para felicidade de Ariane, e agora vamos visitar a vovó. Nem acredito que fazem cinco anos que eu saí de lá para vir morar em Nova York com meus pais... Eu sei que já faz um ano, mas ainda dói lembrar-me deles.
- Luci me ajuda a fechar? – Me viro e vejo Ari em cima da mala, eu a fecho e levo até o carro.
- Já foi tudo?
- Siiim – Ari senta no banco de trás do carro – Podemos ir.
Shelby ri e entra no carro também.
- Vamos ou sua irmã não vai sossegar

*No aeroporto*
- Promete ligar todos os dias? – Shel pergunta, ao me abraçar.
- Por que não vem com a gente Shel?
- Não posso Ari, trabalho de verão...
- Vou ligar cinco vezes ao dia, sete dias da semana. Está mais tranquila agora? – respondo à Shelby
- Com certeza. Ainda mais pelo fato de que não sou eu que pago sua conta telefônica – ela diz, rindo.

Graças a Deus só faltam 20 minutos para chegarmos à casa da vovó. Nunca tinha reparado como Ariane era ligada a ela. A criatura não me deixou em paz um segundo da viagem.
- Eba! Chegamos – Ari abre um grande sorriso. Nós descemos do avião e avisto nossa vó nos chamando.
- Lucinda! Ariane! – ela acena para nós e Ari sai correndo ao seu encontro.
- Vovó!

- O que vamos fazer hoje? – Ari pergunta inquieta ao sentar-se no sofá ao lado de vovó.
- Bem, tem uma Festa dos Fundadores hoje à noite. Se quiserem podemos dar uma passada lá
- Legal! Agora... O que tem pra comer?
A noite chegou e nós três fomos para a Festa dos Fundadores. Era no porto e toda a cidade estava lá. Ariane foi correndo para os brinquedos e eu fui atrás dela. Vovó ficou com suas amigas na barraca de crochês. Coloquei Ari na roda gigante e um garotinho mais ou menos de sua idade, de cabelos cacheados sentou-se ao lado dela. Eu o olhei por alguns segundos, ele me lembrava alguém... Quando a roda começou a girar eu me virei para a praia, o mar estava calmo e convidativo. Deu-me uma vontade enorme de mergulhar nele, mas ao invés disso fui até o quiosque pedir uma batida de maçã e morango com chocolate, então o garoto do quiosque se virou pra mim.
- Luci?
- Ah meu Deus! Miles?
- O que você está fazendo aqui?
- Eu vim visitar minha avó... Eu não acredito você passou de mim!

*Oito anos atrás*
- Isso é frustrante. Eu me sinto uma formiga – Miles diz-me um pouco triste.
- Mas ainda é meu melhor amigo... Anãozinho – não aguento e solto uma risada.
- Ei! Um dia eu ainda fico maior que você
- Aposto 10 dólares que isso não vai acontecer

*Presente*
- Acho que alguém aqui me deve 10 dólares – Miles diz sorridente
Eu não acredito. Rever o Miles é como voltar no tempo. Depois que fui embora começamos a nos distanciar até que paramos de nos falar. Estou tão feliz por encontra-lo. Acho que deveria ter vindo pra cá mais vezes durante esses 5 anos...
Miles terminou seu turno no quiosque e foi comigo ver como estava Ari. Então descobri porque aquele garotinho me lembrava alguém. Ele era seu irmãozinho, Roland. Nós deixamos os dois aos cuidados do irmão mais velho de Miles: Cam e fomos dar uma volta na praia.
- Então o que tem feito nesses 5 anos? – Miles me pergunta, olhando para o mar que começara a se agitar.
- Nada demais. Terminei o colegial, entrei pra faculdade
- Arquitetura?
- Sim... E agora eu e Ariane moramos com uma amiga num apartamento minúsculo desde que, bem, desde que meus pais morreram...
- Sua avó me contou sobre isso... Podemos mudar de assunto se quiser – ele dá-me um sorriso reconfortante
Eu sorrio de volta. Apesar dos anos Miles ainda me entendia melhor do que ninguém (não fique brava Shel, mas é verdade). Ele sempre sabia o que eu estava pensando antes de eu dizer.
- E você o que tem feito?
- Bem, eu... – antes que ele pudesse responder Ariane chama o meu nome.
- Luci – ela grita de longe com Cam e Roland ao lado dela – A vovó tá chamando.
Voltamos com eles pra festa e Miles nos levou até em casa. Antes de me mudar Cam estava dando aulas de direção a Miles e tenho que confessar que aquilo era mais engraçado do que qualquer filme de comédia. Mas graças a Deus ele aprendeu a dirigir bem, afinal o hospital de Norristown era o último lugar que eu estava a fim de visitar. Quando cheguei em casa e subi para o meu quarto percebi o quanto estava cansada. Deitei em minha cama e dormi sem esforço algum. Um sono sem sonhos que acabou rápido demais pro meu gosto. Quando o despertador tocou de manhã parecia que eu havia dormido por nem uma hora. Com muito esforço me levantei e fui para a cozinha. Quando cheguei lá desejei desesperadamente ter me arrumado melhor antes de descer. Miles e Roland estavam ali.
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Obs: Os nomes são dos personagens da série "Fallen", então todos os créditos vão a escritora Lauren Kate
Xoxo - J

sábado, 23 de junho de 2012

Anjos da Morte [4/4]


Lá de cima veio um chamado assustado.
— Miley? É você?
— Pai! — eu disse, correndo em sua direção enquan­to ele saía do quarto. Ele me abraçou com alegria e deu um sorriso para Nicholas.
— Você deve ser o rapaz que trouxe a minha filha para casa ontem à noite. Zac, não é?
"O quê?", eu pensei chocada. O meu pai já havia conhecido o Nicholas. Como é que ele foi da raiva à doçura de forma tão rápida? E o acidente? O hospital? E quanto a minha morte?
— Não, senhor. Eu sou o Nicholas. Um dos amigos da Miley. Eu também estava com ela ontem à noite depois que o Taylor foi embora. Apareci hoje só para ver se ela, hmm, quer fazer alguma coisa.
Meu pai parecia estar orgulhoso por eu ter feito um amigo sem a ajuda dele, mas eu estava completamente confusa. Tossindo levemente, como se estivesse ten­tando achar a melhor forma de lidar com o primei­ro namorado que ele conhecia, ele apertou a mão que Nicholas havia estendido.
**                                                                            
— Então a história oficial é que Zac me trouxe para casa e eu assisti TV até dormir? — perguntei, querendo saber exatamente com o que eu teria que lidar. — O acidente não existiu? — Ao ver Nicholas concordando com a cabeça, continuei: — Quem vai lembrar sobre ontem? Alguém?
— Nenhuma pessoa viva vai conseguir lembrar — ele disse. — Ron muda a continuidade do tempo. Ele deve gostar muito de você para ter feito isso. — Seu olhar se voltou para a pedra no meu peito. — Ou ele simples­mente gosta muito da sua pedrinha nova.
O jantar foi acompanhado por uma longa conversa sobre a co­mida. Depois de ficar brincando com o meu prato por uns vinte minutos, eu pedi licença, dizendo que estava cansada por causa da festa de formatura.
Ali estava eu sentada no telhado às duas da madrugada, tacando pedras, fingindo estar com sono enquanto o mundo girava, escuro e frio.
A sensação de estar sendo vigiada apareceu com força, e me virei, aflita, quando Nicholas caiu de uma árvore atrás de mim.
— Ei! — berrei, sentindo o meu coração pulando ao vê-lo aterrissando em uma telha como se fosse um gato, — Que tal me avisar quando você estiver por perto?
Ele estava envolvido por uma luz fra­ca, que era tão visível quanto a sua irritação.
— Se eu fosse um agente da morte eu já teria matado você.
— Bem, eu já estou morta, não estou? — falei, jogan­do uma pedra nele. Ele nem se moveu, e a pedra passou por cima de um de seus ombros. — O que você quer? — perguntei, sem delongas.
— Zac falou alguma coisa para você no carro. Foi o único momento no qual você ficou fora da minha mira. Quero saber o que foi. Um detalhe pode servir para que você consiga continuar fingindo que está viva, ou pode levar você ao júri negro. — Ele se moveu de forma de­cisiva, com raiva. — Eu não vou falhar novamente, não por sua causa. Você já era importante para o Zac antes de pegar a pedra dele. Foi por isso que ele foi pegar o seu corpo no necrotério. Quero saber o porquê.
—Ele disse que acabar com a minha vidinha era uma passagem para um lugar melhor. Ele voltou para provar que ele havia... me coletado.
Eu esperei por uma reação, mas não houve nenhuma. Finalmente, não aguentei o silêncio e levantei o rosto a fim de olhar dentro dos olhos de Nicholas. Ele estava olhando para mim como se estivesse tentando decifrar a mensagem. Claramente, sem ter encontrado uma res­posta, ele disse, com calma:
— Acho que você deveria manter isso em segredo por enquanto. Ele provavelmente não quis dizer nada com isso. Esqueça. Gaste o seu tempo tentando se adaptar.
— É — respondi com uma ponta de risada sarcásti­ca —, uma escola nova é sempre divertida.
— Eu quis dizer se adaptar aos vivos.
—Ah. — Tudo bem. Eu ia ter que aprender a me adaptar, não a uma escola nova, mas aos vivos. Legal. Ao recor­dar o jantar desastroso que eu tive com o meu pai, eu mordi o lábio.
— Hmm, Nicholas... é para eu comer?
— Se você for como eu, você não vai ter fome nunca.
— E dormir? - Ele riu.
— Você pode tentar. Vamos — ele disse, estendendo a mão. — Eu não tenho nada para fazer hoje à noite, e estou entediado. Você não é de berrar muito, é?
Meu primeiro pensamento foi "berrar?", e depois "vamos aonde?" No entanto, falei algo bem idiota em vez disso:
— Não posso. Estou de castigo. Não posso pisar fora de casa até que eu pague por aquele vestido, a não ser para ir à escola, — Mesmo assim, sorri e dei a minha mão para que ele me ajudasse a levantar.
— Bem, eu não posso mudar o fato de você estar de castigo — ele disse —, mas não precisa sair de casa para irmos aonde estamos indo.
— O quê? — perguntei. Fiquei surpresa ao vê-lo indo para trás de mim. Ele ficou muito mais alto por causa da inclinação do telhado. — Ei! — exclamei quando ele me abraçou. No entanto, o meu protesto sumiu em meio ao choque de ver uma sombra cinza se curvando em volta de nós de repente. Ela era real, e tinha o cheiro do travesseiro de penas da minha mãe. Eu engasguei quando ele me apertou mais forte e meus pés saíram do telhado em uma ascensão contra a gravidade.
— Caramba! — exclamei enquanto o mundo se es­ticava lá embaixo, prateado e preto sob a luz do luar. — Você tem asas?
Nicholas gargalhou. O meu estômago se revirou todo, e nós fomos mais para cima.
Talvez... talvez isso tudo não fosse ser tão ruim assim.
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Notas Finais: Esclarecendo mais uma vez para não haver confusões: ESSA HISTÓRIA NÃO É MINHA. Todo o crédito vai para Kim Harrinson que a escreveu para o livro Formaturas Infernais, ao qual recomendo a leitura, pois é um livro muito bom. Só avisando que troquei o nome dos personagens [anta, todos perceberam -.-']. Acho que era isso, então se gostaram comentem ;D
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PS: Hoje não terá DTM e talvez sábado que vem também não. Vou aproveitar que estou entrando de férias para escrever os capítulos. Se puderem fazer um favor ficarei muito grata: à quem tem blog, por favor divulguem se gostam da história e, claro, comentem ai, seus dedos não vão cair [mas se caírem não foi culpa minha] Beijos e até uma próxima. 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Anjos da Morte [3/4]


Fiquei parada em pé próxima à porta de entrada com o coração batendo forte, es­cutando o silêncio que emanava da casa que meu pai manteve organizada e limpa. O fato de eu não ter me sentido nem um pouco cansada me deixou preocupada. Meu pulso estava acelerado por causa do medo, e não por causa da corrida.
— Pai?
— Miley? Você está viva? — ele disse. — Eles falaram que você havia morri­do. Você está viva?
— Eu estou bem — choraminguei contra o peito de­le. — Perdão, pai — falei, ainda chorando. — Eu não devia ter saído com aquele cara. Eu nunca devia ter fei­to isso. Me desculpa. Perdão!
— Psiu. — Ele me puxou de volta em um abraço. — Tudo bem. Você está bem — ele disse, acariciando o meu cabelo. No entanto, ele não sabia que, na realida­de, eu estava morta.
Um barulho suave veio da porta. Meu pai desviou o olhar por cima do meu ombro, e eu virei o rosto. Nicholas estava em pé de forma estranha ao lado de um homem baixo que vestia uma roupa larga, como um uniforme de luta marcial. Os seus cabelos indicavam que ele era idoso, os cachos apertados eram grisalhos perto das têmporas.
— Olá —meu pai disse, me colocando ao seu lado —, vocês trouxeram a minha filha para casa? Obrigado.
Nicholas havia trazido o chefe. Eu queria ficar. "Droga, eu não quero estar morta. Não é justo!"
O homem fez uma expressão de tristeza.
— Não — ele disse —, ela conseguiu chegar aqui sozinha. Só Deus sabe como.
— Eles não me trouxeram aqui — falei, sentindo-me nervosa. — Eu não os conheço. Eu já vi aquele cara — adicionei —, mas não o mais velho.
Mesmo assim, o meu pai deu um sorriso neutro, ten­tando organizar as ideias.
— Vocês são do hospital? — ele perguntou. Seu ros­to ficou sério. — Quem é o responsável pela notícia de que minha filha estava morta? Alguém vai perder a ca­beça aqui.
— Palavras mais verdadeiras que essas nunca foram ditas, senhor. – o homem idoso dise — Precisamos conversar filha.
Meu Deus. Ele queria que eu fosse com ele.
Apertei o amuleto nas mãos e o meu pai me abraçou mais forte. Ele viu os meus olhos com medo e finalmen­te entendeu que algo estava errado. Ele se colocou entre as duas pessoas que estavam à porta e eu.
— Miley, chame a polícia — ele disse, e eu peguei o telefone que estava em cima da mesinha.
— Ah, nós precisamos de um minuto — disse o ho­mem idoso.
Minha atenção foi atraída pelo movimento que ele fez com uma das mãos. Parecia que ele era um péssimo ator em um filme de ficção científica. O som da linha telefónica ficou mudo, assim como o do cortador de grama lá fora. Em choque, olhei para o telefone, e de­pois para o meu pai, em pé entre os dois homens e eu. Ele não se movia.
Respirei fundo para tentar gritar. O ar saiu de mim como em uma explosão e eu andei para trás quando ele avançou mais um pouco. No entanto, ele não estava vindo em minha direçao. Afas­tando a minha cadeira branca da penteadeira, ele sen­tou seu corpo diminuto de lado. Ele colocou um cotove­lo nas costas da cadeira e apoiou a testa na mão, como se estivesse cansado.
— Por que as coisas não são fáceis? — ele murmurou — Isso é uma brincadeira? — ele falou mais alto, olhando para o céu. — Você está rindo? Está dando umas boas risadas por causa disto?
— Meu pai está bem? — perguntei, tocando o om­bro dele.
Nicholas fez que sim com a cabeça, e o homem ido­so voltou a me olhar. Sorrindo como se tivesse tomado uma decisão, ele estendeu a mão. Olhei para ele, sem imitar o gesto.
— Prazer em conhecê-la — ele disse com firmeza. — Miley, certo? Todos me chamam de Ron.
Eu o encarei, e ele acabou abaixando a mão.
— Nicholas me contou sobre o que você fez — ele disse. — Posso ver?
— Ver o quê?
— A pedra — Ron disse
— Acho que não — eu disse. A expressão de alarme no rosto de Ron reafirmou a minha impressão de que ele queria tocar a pedra.
—Miley — ele disse com calma, levantando-se —, quero apenas olhar para ela.
— Você a quer para você! — exclamei, com meu co­ração pulando. — Eu só estou sólida por causa dela. Não quero morrer. Vocês mandaram mal. Não era para eu estar morta! A culpa é de vocês!
— Sim, mas você está morta — Ron disse. Minha respiração parou quando ele estendeu a mão. — Eu só quero ver.
— Não vou entregá-la! — berrei, e os olhos de Ron ficaram acesos, com medo.
— Miley, não! Não diga isso! — ele berrou, ten­tando me tocar.
— É minha! — eu gritei. Minhas costas encontraram a parede.
— Ai, Miley — ele suspirou —, você não devia ter feito isso.
Abri os meus dedos para ver a pedra. Meu queixo caiu, e eu fiquei olhando. Ela havia mudado. Quando a ti­rei do agente da morte, a pedra era simples, cinza e sem graça. Agora, ela estava completamente negra, como se fosse um buraco negro pendurado no cordão.
—Nós tínhamos a esperança de acabar com isso da me­lhor maneira antes que você agisse. Mas, agora ela é toda sua. — Seus olhos encontraram os meus com uma tristeza amarga. — Parabéns.
Era minha. Ele disse que a pedra era minha.
— Mas ela era a pedra de um agente da morte. — Nicholas disse, e eu me assustei com o tom de medo na voz dele. — Aquele cara não era um agente da morte, mas ele tinha a pedra de um agente. Ela é uma agente da morte! — Nicholas berrou. Eu não soube o que fazer quando ele tirou uma foice pequena, parecida com a de Zac, de dentro de sua ca­misa. Com um pulo, ele se colocou entre Ron e eu.
— Nicholas! — Ron suplicou, empurrando-o com força até que ele esbarrasse na porta. — Ela não é uma agente da morte, seu idiota! Ela não é nem um anjo! Ela não pode ser. Ela é humana, mesmo que esteja morta. Guarde isso antes que eu tome uma providên­cia séria!
Ron olhou para o nada.
Ela tem alguma coisa mais poderosa do que uma simples pedra, e eles vão voltar para buscá-la. Pode ter certeza.
— Zac sabe onde estou
— Ele cruzou sem a pedra, e assim ele não consegue achar você no tempo. Ele vai ter dificuldade para te encontrar novamente. Mas ele vai encontra-la, no entanto. E depois vai levar você com ele, junto com a pedra. E o que vai acon­tecer depois disso? Eles fazem coisas terríveis, sem nem pestanejar, a fim de perpetuar a es­pécie deles.
Os olhos do homem idoso pararam em mim, e ele piscou, como se tivesse percebido o que havia dito.
— Ah, mas eu posso estar errado — ele disse, sem muito sucesso. — Às vezes, eu erro.
Senti o meu pulso acelerar, e uma sensação de pânico nasceu em mim. Antes do acidente, Zac havia dito que eu era a passagem dele para um lugar melhor.
Nicholas viu que no meio do meu pavor eu estava escondendo algu­ma coisa.
— A única coisa que podemos fazer — Ron disse — é mantê-la intacta até descobrirmos como quebrar o encan­to que a pedra tem sobre você, sem quebrar a sua alma. Nicholas? — Ron disse com uma voz que me as­sustou. Nicholas também pareceu ter ficado surpreso
— O que foi senhor?
— Parabéns, você foi promovido a anjo da guarda.
— Isso não é uma promoção. É uma punição!
— Uma parte disso é culpa sua — Ron disse.
— Mas senhor! — Nicholas exclamou.
Segui os dois, sem acreditar naqui­lo. "Eu tenho um anjo da guarda?"
— Senhor, eu não consigo! — Nicholas disse, fazendo-me sentir como um fardo indesejado. — Não tem como fazer o meu trabalho e cuidar dela! Se eu me dis­tanciar muito eles vão capturá-la!
— Então ela vai acompanhar você nos seus trabalhos. — Ron disse — Ela tem que aprender a usar aquilo. É só por um ano. Miley — ele disse, despedindo-se —, fique com o pingente. Ele vai proteger você. Se tirá-lo do pescoço, as asas negras vão encontrar você, e os agentes da morte nunca estão longe delas.
— Asas negras? — perguntei.
— Vultos do mal, sombras da Criação. Eles podem sentir o seu cheiro porque você está morta, mas com a pedra eles vão achar que você é uma agente e não vão lhe incomodar.
Ele cruzou a porta de saída e se misturou à luz do Sol.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Anjos da Morte [2/4]


Respirei fundo e descobri que estava mais fácil fa­zer este movimento. Ao perceber que meus olhos estavam fecha­dos, eu os abri e vi um borrão preto bem próximo do meu nariz. Havia um cheiro pesado, como o cheiro de plástico.
— Ela tinha 16 anos quando entrou naquele carro. A culpa é sua — disse uma voz jovem, porém bem masculina.
— Você não vai jogar a culpa disso em cima de mim — uma menina disse sua voz tão irritada e determina­da quanto a anterior. — Ela tinha 17 anos quando ele jogou a moeda. Isso foi furada sua, e não minha. Deus me livre, ela estava bem na sua frente! Como você con­seguiu errar?
De repente, percebi que o borrão preto que estava fa­zendo com que minha respiração voltasse para mim era um plástico. Minhas mãos se elevaram e minhas unhas empurraram o plástico em uma apunhalada de medo. Tirei o plástico de mim. Dois jovens estavam em pé ao lado de duas portas brancas sujas, e eles se viraram, surpresos. O rosto pálido da menina ficou vermelho, e o garoto se afastou para trás como se estivesse com vergonha de ter sido surpreendido discutindo com a menina.
— Ei! — a menina disse, jogando a trança longa e negra para trás. — Você acordou. Hmm, oi. Eu sou a Selena, e este é o Nick.
O menino abaixou o olhar e acenou com vergonha.
— Oi — ele disse —, tudo bem?
— Você estava com o Taylor — falei, meus dedos tre­mendo ao apontar para ele.
Ambos usavam uma pedra negra como pingente no pes­coço. Eram peças sem graça e até insignificantes, mas o meu olhar foi atraído por elas por que era a única coisa que eles tinham em comum.
— Onde estou? — eu perguntei — Onde está Taylor?
Eu hesitei, percebendo que eu estava em um hospital, mas... "Cara, eu estou dentro de uma droga de saco que serve para cobrir cor­pos?"
— Estou no necrotério? — questionei. — O que estou fazendo em um necrotério?
Em um movimento brusco, tirei as minhas pernas do plástico e coloquei os pés no chão.
— Alguém cometeu um erro — eu disse
Selena respirou fundo.
— Nicholas — ela disse, e ele ficou zangado.
— Isso não é culpa minha! — ele exclamou — Ela tinha 16 anos quando entrou no carro! Como é que eu ia saber que era o aniversário dela?
— Ah, é? Cara, ela tinha 17 anos quando morreu, então o problema é seu sim!
"Morta? Será que eles estão cegos?"
— Quer saber? — falei — Vocês dois podem continuar discutindo aí sobre o movimento do sol, mas eu tenho que encontrar alguém e avisar que estou bem.
Passei por eles e andei uns cinco metros, até que senti como se estivesse me desconectando do mundo. Zonza, coloquei a mão em uma mesa vazia. A sensação estra­nha veio inesperadamente. Minha mão se contraiu de forma involuntária, e eu a puxei de volta para o corpo, como se o frio do metal tivesse queimado os meus os­sos. Me senti como... uma esponja. Fina. O barulho suave da ventilação ficou abafado. Até os meus batimentos cardíacos pareciam estar mais distantes. Me virei com as mãos sobre o peito, como se estivesse tentando me fazer sentir normal novamente.
— O quê...
Do outro lado da sala, Nick elevou os ombros finos.
— Você está morta, Miley. Desculpa. Se você se afastar muito dos nossos amuletos, vai começar a per­der substância.
Ele apontou para a maca, e eu olhei.
Fiquei completamente sem fôlego. Eu ainda estava lá. Quer dizer, eu ainda estava na maca. Eu estava dei­tada sobre o colchão dentro de um saco todo amassado, sem muita expressão e pálida. O meu vestido elaborado estava todo amarrotado em volta de mim, um rastro de uma elegância ultrapassada e esquecida.
“Estou morta? Mas sinto meu coração batendo.”
— Não estou morta — eu disse, cambaleante. Nicholas ajudou a me sentar, apoiando-me contra o pé de uma mesa.
— Está sim. — Ele se agachou ao meu lado, seus olhos castanhos estavam arregalados e mostravam preocupação. Sincera. — Sinto muito mesmo. Achei que ele fosse pegar o Taylor. Eles geralmente não deixam ras­tros, como um carro daqueles. Você deve mesmo inco­modar.
— Quem são vocês? — perguntei, sentindo a tontura diminuir,
Nicholas se levantou,
— Nós, bem, somos da Manutenção Organizacio­nal. Recuperação Total de Erros.
Refleti sobre aquilo. Manutenção Organizacional, Recuperação... M.O.R.T.E.?
— Vocês são a Morte! — exclamei
— Nós não somos a Morte! — Selena disse, meio ofendida — Nós somos os anjos da morte. Os agentes da morte matam as pessoas antes que a moeda delas seja jogada, e os anjos da morte tentam salvá-las. Os agentes da morte são traidores que falam demais e não ficam acordados para ver o sol nascer, senão viram pó. Zac é um agente da morte. Nós aparecemos apenas quando eles pegam alguém fora de hora. Aconteceu um erro.
— Erro?
Selena deu um passo à frente.
—Não era para você ter morrido, entende? Um agen­te da morte tirou a sua vida antes que a sua moeda fosse jogada. Nós estamos aqui para fazer um pedido de desculpas formal e colocar você no caminho certo.
Eu precisava avisar meu pai, disser que estava bem.
**
Bati com força nas portas, passando através delas, mesmo que elas não tivessem sido completamente abertas. Eu esta­va na sala ao lado. Eu tinha passado pelas portas, por cima delas. Como se eu nem estivesse ali.
No entanto, eu estava me sentindo muito estranha novamente. Nebulosa e fina. Alargada. Nada soava di­reito, e as bordas da minha visão começaram a ficar acinzentadas.
Mesmo assim continuei andando até que esbarrei em alguma coisa grande, quente, com cheiro de seda. Dei um passo para trás, morrendo de medo ao ver que era o Zac. Ele havia me matado com uma faca que não deixou marcas, vis­to que jogar o carro monte abaixo comigo dentro não adiantou. Ele era um agente da morte. Ele era a minha morte.
— Que bom que você está de pé. É hora de ir.
— Não me toque. – Me afastei dele
— Miley! — Nicholas berrou. — Corra!
— Ela é minha, se eu quiser.
Nicholas ficou pálido.
— Você nunca volta para pegá-los. Você... — Os olhos dele se viraram para a pedra que Zac carregava no peito. — Você não é um agente da morte, é?
Zac deu um sorriso
— Não, não sou.
— Nicholas! — Selena gritou, horrorizada. — Não!
Nicholas se lançou para cima da figura es­cura vestida de seda. Em um movimento tão casual que chegava a ser assustador, Zac se virou para atingi-lo com as costas de uma das mãos. Com pernas e braços no ar, Nicholas voou para trás, batendo na parede e caindo no chão, apagado.
— Corra! — Selena berrou, me empurrando para den­tro do necrotério. — Fique no sol. Não deixe que as asas negras toquem você. Nós vamos buscar ajuda. Al­guém vai encontrar você. Saia daqui!
— Como? — exclamei. — Ele está na frente da única porta de saída.
Zac se moveu novamente, desta vez afastando Selena com as mãos. Ela se dissolveu no chão e eu fiquei sozi­nha.
— Você não tem saída — ele disse. — Fui eu quem matou você. Você é minha.
Ele esticou a mão e pegou o meu punho. Senti a adre­nalina correndo em mim, e puxei o meu braço.
— Nem no inferno — eu disse, chutando a canela dele. Ele obviamente sentiu dor, gemendo ao se curvar, mas nem por isso me largou. Ele havia colocado o rosto muito perto de mim, no entanto. Agarrando o cabelo dele, eu bati em seu nariz com o joelho. Senti a cartila­gem se movendo, e o meu estômago se revirou.
Com o coração pulando, peguei a pedra que estava no pescoço dele. Ela brilhou em minhas mãos, como se tivesse em chamas, e eu apertei meus dedos em volta dela, disposta a sofrer o que fosse preciso.
— Miley... — Nicholas chamou deitado no chão — Corra — ele sussurrou.
Com o amuleto de Zac em minhas mãos, olhei para o corredor... e corri.